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2 de nov. de 2012

A Japa topa todas!


Com inconfundível sotaque caipira e a mesma naturalidade adolescente, Sabrina Sato faz de corridas de avestruz a entrevistas no Senado. Ninguém resiste. E você?
Sabrina Sato vive cercada. Cercada de homens no trabalho, cercada de familiares em casa, sempre com uma entourage em volta. Estar entre um monte de gente é habitual para ela. Desde sempre. E muito provavelmente ela deva a essa convivência constante sua total desenvoltura. Sabrina não se aperta.

Chega ao estúdio para fazer as fotos destas páginas com um shortinho mínimo de couro preto, saltos enormes – e vai logo entrando pela janela, baixa e aberta. Circula com um biquininho ínfimo, sem nenhum problema, entre dezenas de pessoas. De patins dourados nos pés, calcinha, colete aberto e nada por baixo, uma hora ela dá de cara com o seu motorista. E tira de letra: “Oiiiii”… diz, e segue seu caminho, oferecendo a visão de seu derrière malhadíssimo.
Nas reuniões de pauta do Pânico, regadas a churrasco e vinho na casa de Emilio Surita, quando a macharada começa a extrapolar, ela vira moleque, entra no clima. “Você não imagina o que eu ouço”, confessa. Mas não importa o teor da barbaridade, Sabrina nunca parece acusar o golpe. Abre o sorrisão, agarra seu sorvete Häagen-Dazs (na última reunião devorou um pote de doce de leite) e segue firme. “A gente começa às 3 horas da tarde e não tem hora para acabar. É brainstorming total. Pode terminar às 8 horas da noite ou às 2 horas da manhã”, conta.

O fato é que, nas situações mais surreais, Sabrina age como se estivesse no seu quarto, entre amigas adolescentes, trocando confidências. E assume um tom tão casual, tão absolutamente corriqueiro e íntimo que desmancha qualquer carcaça, rompe resistências, desarma. Quando recebe olhares gulosos no Congresso Nacional, quando tem de fazer perguntas esquisitas em entrevistas internacionais… Sabrina nunca perde o rebolado.
A impressão que dá é que sua confiança é absolutamente inabalável. Ou então, que ela é tão desligada que nem se dá conta do que está fazendo ou do quanto está se expondo. Ingênua? Lesada? Calculadamente no controle? Você sempre vai ficar com essa dúvida – um mistério que compõe boa parte do seu charme.
“Cresci numa casa cheia de gente. Nunca éramos só nós cinco à mesa. Eu morava nos fundos de uma loja de roupas e sempre foi um entra e sai”, conta. “Minha avó, a japonesa, mãe da minha mãe, é a Miss Simpatia de Penápolis (cidade do interior de São Paulo, na qual Sabrina nasceu).” Bom, tá explicado. O carisma é genético. E, tal como ela própria, subverte o senso comum: uma japonesa expansiva assim? “Nooossa, minha vó conta piada o dia inteiro, tem uma risada alta e anda com um avental com um pinto desenhado, que se ergue!”


Aliás, a sucursal de Penápolis em São Paulo é o triplex onde moram Sabrina, sua “irmãe” Karina e seu irmão Karin, todos sócios da “holding” Sato. “Eu cuido da parte criativa, escolho as coisas do meu jeito. A Karina, que é advogada, faz os contratos, e o Karin administra”, explica Sabrina. Além de agenciar outros artistas, eles negociam licenciamentos com a marca Sabrina Sato e tocam um salão de beleza. “Sou filha de comerciantes (os pais, psicólogos, têm duas lojas multimarcas e um consultório que faz exames psicotécnicos em Penápolis), desde pequena eu fazia espetáculos e cobrava ingresso da família”, conta Sabrina. Sua irmã escrevia os textos para Sabrina protagonizar. Jura que ela sempre gostou de chamar a atenção. Tino comercial e prazer em se expor. Duas características que se mantêm intactas. Fora o senso de humor. Aos 10 anos, numa apresentação da escola, as meninas todas escolheram músicas da Madonna ou das Spice Girls para imitar. “Eu fui de Bob Marley. Passei a noite fazendo trancinhas, cheguei toda pintada de preto e ainda enrolei um cigarrinho de papel. Tomei a maior bronca da professora, mas veio gente até das outras turmas para me ver”, conta a “japa”, como é chamada pelos colegas de Pânico.
Ela sempre soube que queria trabalhar na TV. Fez teatro, tentou ser bailarina clássica, chegou a dar aulas e entrou na faculdade de dança da UFRJ, no Rio. Mas a vida de bailarina era sacrificada demais. Arriscou uma faculdade de jornalismo, em São Paulo, mas achou chato. Ao mesmo tempo, trabalhava em uma loja de roupas e fazia comerciais. “Mandei minha fita para o Big Brother porque não tinha nada a perder”, lembra.


Quando saiu do programa, foi chamada para dar entrevista na rádio Jovem Pan. Acabou sendo convidada para trabalhar no Pânico. “Eu me encontrei no Pânico. Somos uma família. A gente mistura muito a relação, o que é bom – e ruim às vezes. Tem esse humor interno, essa gozação que acaba indo para a TV”, diz.
Agora que Sabrina está solteira (terminou há um mês com o deputado federal Fábio Faria, que namorou por três anos), o pessoal fica brincando de arrumar para ela um namorado. “Outro dia me ligaram à 1 hora da manhã, dizendo que estavam com o Rodrigo Santoro, para eu falar com ele. Não entendi nada e acabei desligando na cara do cara. Mas era verdade, o Vesgo e o pessoal estavam gravando numa festa!”, conta. A brincadeira virou um quadro do tipo The Bachelor. E já tem gente mandando fitas – de médico a peão boiadeiro.
“Eu nunca procurei namorado, sempre apareceu”, conta a moça. “Mas queria aprender a escolher. Acho que quando termino um namoro vou logo para o oposto no próximo”, filosofa. E o que procura agora? “Alguém no eixo Rio/São Paulo”, diz, soltando uma gargalhada. “Só namorei nordestinos nos últimos anos!” Candidatos não vão faltar. Sabrina é uma das mulheres mais desejadas do país, embora ela não entenda por quê. Diz não ter a menor pretensão de ser gostosa e acha que há gente muito mais bonita e desejável… Então, o que acha que chama a atenção em sua pessoa? “Acho que chamo a atenção porque me viro bem nas situações, por esse meu jeito natural”, avalia. Sem dúvida – não que suas pernas malhadas não contem.
A Sabrina não só não se aperta como topa todas. Vamos correr de avestruz? Ela vai. “Você pode ficar de quatro e beber um pouco de leite deste potinho?”, pede o fotógrafo, durante o ensaio. Ela bebe. De quatro. “A Sabrina é muito boazinha, tudo ela aceita, nunca brigamos”, diz a irmã e empresária. E mais uma vez levanta-se a dúvida: ela faz essas coisas sem noção ou calculadamente? Sabrina não se abala com os que pensam que é boba. “Cheguei aqui pura, posso ser ingênua, mas não sou tonta. De todo jeito, não me incomodo. Me incomodo é de ser chamada de gorda!”
Sanfona assumida, ela adora comer. Em casa, recebeu ALFA para uma entrevista. Desceu do quarto de banho tomado, calça de ginástica, chinelos e maquiada, porque mais tarde ia sair com amigos. “Já jantei. Vou tomar uns drinques – e jantar de novo também”, avisa. Naquele dia, estava de folga depois de várias semanas e aproveitou para cauterizar pequenas pintas do rosto. “Sou a japa mais pintuda que existe. Não é nem pintada. É pintuda”, diz, rindo. E eis outra faceta que sustenta sua desenvoltura, sua aura de naturalidade a toda prova: Sabrina sabe rir de si mesma, de suas características, de seus defeitos. E sabe que é uma mistura improvável: uma japonesa despachada com sotaque caipira.
Já foi chamada de “gostosa lesada”, mas ao menos de administrar o seu sucesso ela entende – e bem. Recusou propostas para ter um programa solo e também para fazer cinema. Está, neste momento, negociando um papel com uma produtora para um filme nacional. Sabrina quer aproveitar seu momento. Dorme pouco, 4 a 5 horas por noite, e trabalha bastante, com uma agenda na qual não há praticamente rotina. A quem critica o Pânico, ou o tacha de machista, ela responde: “A sociedade é que é machista, o programa só reflete isso às vezes”. Sabrina está cabreira, acha que os humoristas têm enfrentado dificuldades para trabalhar. “Hoje, todo programa incluiu o humor em sua fórmula, e a gente está cheio de restrições: não se pode falar de política ou de políticos, não se pode falar de celebridades…”
E se a fama acabasse, um dia, o que ela faria? Imagina ter capacidade para fazer várias coisas. As opções começam a brotar em sua mente. Poderia ser mãe. Mas agora? Toparia ser mãe solteira? “Ah, pode ser, se bem que preferia ser mãe com dois pais”, ri. Outras alternativas: ir morar na Chapada dos Veadeiros e ficar andando pelas cachoeiras. Dar aulas de ioga. Abrir uma loja em Penápolis. “Eu sigo minha intuição. Não planejo nada. Meus amigos ficam loucos comigo. Só no Natal estou ligando para comprar passagens para o Réveillon. Minha irmã diz que sempre pago muito mais caro.”
As férias e viagens, em geral, incluem mais gente. Se ela está namorando, faz um roteiro com o namorado mas, em algum momento, se junta a um bando. Apesar da fama, Sabrina não se priva de circular. “Vivo indo na Vila Madalena tomar cerveja. E se todo mundo vai parar para comer pastel de feira em São Paulo ou acarajé em Salvador, eu desço do carro também. Eu causo, mas desço. Foda-se, vai dar tumulto mas eu vou comer!”, diz. Em aeroportos, várias vezes quase perdeu voos. Sua tática agora é avisar ao bolo de gente que a cerca que é preciso ir andando. “Digo: ‘Tudo bem, eu tiro foto, mas vamos indo, senão vou perder o avião’.” Afinal, Sabrina vive cercada. E ela gosta assim.

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